sexta-feira, 29 de março de 2013

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Por um instante eu pensei que nada aconteceria. A luz incidia naquele livro aberto já há alguns minutos e nada acontecia. Me senti um tanto quanto idiota já que estava excitado como uma criança ante a expectativa. Foi então que eu percebi a desgraça se aproximando. Prefiro pensar que aquela mesma força que oferecera-me aquele local de espiação também era a mesma que agora estendia o tempo oferecendo-me a oportunidade de algum entendimento. Pois nunca, em nenhuma das outras vezes de experimentação, os objetos e figuras materializados demoraram tanto tempo para se fazer presentes dentro daquele salão. Mas eu vi. Os olhos sorvendo aos poucos a realidade e penetrando em minhas veias que aos poucos foram de congelando de pavor. Eu vi todo o terror da criatura mitologica chamada Polifemo. Ainda um vulto translúcido se materializando ao longo de todo o salão. Tão grande que só restava-lhe por opção pôr-se de quatro para poder se manifestar com todo o seu horror. Mas conforme o seu rosto foi se tornando claro para mim, fui finalmente tomado de tal pânico que me arremessei sobre o livro a tempo de ver no rosto onde o sangue escorria junto de uma substância esbranquiçada do local onde estivera o seu único olho, suas narinas se abrirem ávidas em minha direção denunciando que ele já se apercebera de que eu estava ali e que era apenas uma questão de tempo antes que aquela mão monstruosa me abatesse e depositasse meu corpo inerte entre aqueles dentes sujos porém potentes, tão grandes que cada canino facilmente era maior do que a minha cabeça. 

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