- Por quê?
- Porque é muito pequeno onde eu moro...
- Qualquer coisa chega. Eu te dei um carneirinho de nada!
Inclinou a cabeça sobre o desenho:
- Não é tão pequeno assim... Olha! Adormeceu...
E foi desse modo que eu travei conhecimento, um dia, com o pequeno príncipe.
III
Levei muito tempo para compreender de onde viera. O principezinho, que me fazia milhares de perguntas, não parecia sequer escutar as minhas. Palavras pronunciadas ao acaso é que foram, pouco a pouco, revelando tudo. Assim, quando viu pela primeira vez meu avião (não vou desenhá-lo aqui, é muito complicado para mim), perguntou-me bruscamente:
- Que coisa é aquela?
- Não é uma coisa. Aquilo voa. É um avião. O meu avião.
Eu estava orgulhoso de lhe comunicar que eu voava. Então ele exclamou:
- Como? Tu caíste do céu?
- Sim, disse eu modestamente.
- Ah! Como é engraçado...
Me espreguicei após ter ficado por tanto tempo sentado lendo. Reler O Pequeno Príncipe era dar algum descanso para o meu cérebro ante tantas perguntas sem respostas. Deixei o livro aberto sobre a mesinha e decidi ir dar uma caminhada pelos corredores atrás do próximo livro. Quem sabe o café já houvesse sido trocado ou um novo lanche tivesse aparecido. Existia em um dos cantos um enorme balcão de madeira sólida e luzidia onde magicamente, em determinados momentos, algo saboroso sempre aparecia. Não que eu precisasse comer. Mas era sempre uma surpresa agradável quando o cheiro suave do café escapava de alguma xícara caprichosamente colocada em alguma bandeja de prata. Daquela vez, porém, não havia nada. Talvez eu não estivesse sendo um bom menino, pensei bem humorado. Não importava. Eu gostava de caminhar por entre as intermináveis prateleiras. Ficava imaginando quantos dias levaria para conhecê-las por completo. Não que o tempo fizesse alguma diferença. Era apenas uma curiosidade. Decidi procurar por um livro de Homero que pretendia revisitar tão logo terminasse com o pequeno príncipe. Após longa caminhada encontrei o ponto onde ele estaria e galguei as enormes escadas até encontrar a letra certa. Existia alguma força invisível que a empurrava rente às prateleiras quando eu dedilhava os livros procurando por alguma ordem alfabética. Havia dias em que eu me divertira dando muitas e muitas voltas pelos corredores apenas pensando com força no livro que desejava e me agarrando firmemente à escada que deslizava a toda velocidade até que encontrasse o ponto certo onde eu poderia pegar o livro. Assim, encontrei com facilidade a encadernação vinho com letras douradas e a retirei do local com cuidado. Depois, deslizei pelos degraus até sentir o chão sobre os meus pés.
Ao passar novamente pelo balcão, antes mesmo de ver, já senti o cheiro delicioso do café. De repente eu não havia sido um homem tão mau afinal. Além dele, um pratinho com bolinhos de chuva me saudaram. Feliz, ajeitei tudo nas mãos e voltei para minha velha e agora querida poltrona.
O susto que tomei foi tão grande que café e bolinhos caíram no chão produzindo um som que ecoou por todo o salão, fazendo com que um garotinho de cabelos louros, casaca azul e pele rosada erguesse sua cabeça por sobre o ombro e me encarasse com igual surpresa.
- Quem é você? O que faz aqui?
O garoto me olhou e pediu muito seriamente:
- Por favor... desenha-me um carneiro...
Estremeci. Reconhecia tanto a aparência quanto a fala. O Pequeno Príncipe em carne e osso me encarava com seus grandes olhos azuis límpidos e firmes.
Minha confusão não tinha precedentes.
- C-como... - Engasguei com minha própria língua. Respirei fundo e recomecei: - Como você chegou aqui?
- Não tem importância. Desenha-me um carneiro.
Eu tinha certeza. Aquelas eram as falas do personagem. Meu cérebro trabalhava a todo vapor quando, para meu desespero, novas palavras deslizaram através daquela tinta preta que escorria pela parede formando nova mensagem.
Bom Dia, so passei para informar que a promoção de carnaval, em que seu blog tbem esta participando começou hoje, se você ainda nao recebeu o email com o codigo html do formulario, envie um email para gustavocatalao@hotmail.com que te mando o codigo, abraçoss
A situação não podia ser pior já que a mensagem era grande, o caderno estava sobre a mesinha ao lado do livro. E entre mim e estes objetos estava o garoto fabuloso. A voz dele me despertou quando disse:
- Que coisa é aquela?
Corri então até a mesa passando por ele, espantado por sentir sua respiração ao passar por seu pequeno corpo, para apanhar as anotações antes que desaparecessem. Ele pareceu achar graça de meu jeito aparvalhado pois comentou:
- Ah! Como é engraçado...
Aconteceu, porém, que no ato de apanhar caneta e papel eu esbarrei no livro que estava sobre a mesa e este caiu no chão. Imediatamente o menino explodiu como se fosse uma bolha de sabão deixando para trás o eco cristalino de sua risada.
Engoli em seco com as mãos trêmulas anotando a mensagem borrada, o cérebro dividido entre o Pequeno Príncipe e o novo beija flor que já se formara e agora voava à minha frente.
- Gustavo. - Nomeei.
Depois, transpirando, deixei-me cair na poltrona. Meu descanso não demorou muito. Logo, outras palavras escorreram pela parede.
Oi Max,
indiquei seu blog para participar da brincadeira da "Tag", passe lá no meu blog e siga as instruções.
http://seiqueeusei.blogspot.com
Bjos!
Anotei com uma letra quase ilegível dado meu nervosismo. Tampouco conseguia pensar muito quando nomeei a nova ave:
- Tag.
Tudo o que eu queria era compreender o que estava acontecendo. Fiquei um bom tempo com os braços caídos pelas laterais da poltrona, praticamente afundado nela, antes de conseguir pensar em algo. Por fim, meus olhos bateram no livro de Antoine de Saint-Exupéry ainda depositado no chão com as páginas abertas onde se via o texto de um lado e o desenho do princepezinho sobre o asteróide do outro.
O livro ainda estava aberto. Porque então o menino desaparecera?
O que havia de diferente?
Reparei então em algo. Onde ele estava aquela luz suave e perene que vazava das enormes janelas não insidia diretamente. Da mesma forma que o livro dos sapos onde a luz suave havia se despejado em um raio de luz acidental. Seria isso? Se o episódio das letras também provinha de uma janela, não seria intuitivo demais concluir que aquela luminosidade também tivesse algum efeito sobre as coisas que ali estavam...
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