domingo, 6 de janeiro de 2013

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Após dois dias de silêncio onde o tempo era marcado pelo deslizar das páginas eu já havia terminado o  Livro de Ouro da Mitologia e agora lia um enorme livro de capa preta chamado Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal.
Entretinha-me na página 393 com o conto de O porco Xaver de Jaroslav Hasek.

O porco Xaver era engordado na base da ração de melaço. O nome Xaver, ele o recebera da administração do condado, em honra do professor Xaver Kellner de Möcker, conselheiro do governo e uma das autoridades locais mais eminentes no que diz respeito à alimentação de animais de corte. E é a esse ilustre sábio que se deve esta frase espiritual lapidar: "Dado que o melaço apresenta tão bons resultados (e eu o sei graças à minha experiência nos mais diversos domínios), nenhum outro meio de alimentação merece mais a nossa atenção do que esse procedimento doméstico". O porco Xaver, aliás, lucrava enormemente com ele.
Engordava a olhos vistos a cada dia. E depois que metia o focinho no melaço e bebia do bom leite que ajudava a melhor descê-lo pela garganta, o porco Xaver filosofava sobre as delícias deste mundo. De tempos em tempos, seu dono, o Conde Ranm, vinha lhe visitar e dizia:
- Você irá para a Exposição, meu bom rapaz! Coma bastante para que eu não venha me envergonhar de você!
Às vezes a senhora Condessa também aparecia e exclamava, com seus olhos a brilhar de satisfação:
- Ah, como meu querido Xaver está grande e forte!
E quando o casal se ia, despedia-se assim:
- Boa noite, caro amigo! Que o sono te seja doce!
O porco Xaver via o casal se afastando e piscava os olhos suínos com grande ternura e soltava pequenos grunhidos tão lindos que um dia a Condessa comentou com o esposo:
- Quando ouço o nosso bom Xaver começo a acreditar na metempsicose!
Parei a leitura ao me deparar com essa palavra. O que viria a ser metempsicose? Marquei com cuidado a página e depositei o livro sobre a mesinha que carregara no dia anterior para que service de amparo para a minha leitura. 
Restava-me voltar para os corredores atrás de um dicionário. Levantei-me e alonguei aquilo que reconhecia como corpo mais por hábito do que por desconforto. Devo aqui me deter um pouco na descrição do espaço em que fico para poder explicar o que acontece. Existia no enorme salão diversas janelas amplas e curvas por onde existia sempre uma claridade criada por luz tão pura que não era possível ver através do vidro. 
Os portões que me receberam desde então se mantiveram serrados. Não tentei abri-los, prevenido como fora, porém tentei abrir a essas janelas sem obter êxito. Estavam lacradas e tão imóveis quanto uma parede de tijolo. No alto dos portões existia uma única janelinha circular por onde a luz também adentrava. Foi ali que o canto de meus olhos perceberam que algo como uma tinta negra escorria pela parede vinda da pequena janela. Ela já devia estar ali há algum tempo, mesmo que eu não tivesse me apercebido dela, pois aos poucos ela ia percorrendo as paredes alvas como se fossem escritas por mão invisível. 
Me afastei o suficiente para poder enxergar o que aparecia ali sentindo-me um tanto ansioso. 

Pois é colega, seguindo seu blog. 

Eis alguns lugares que escrevo de vez em quando. Encontrará alguns conhecidos por lá:
http://negativeuniverse.blogspot.com.br/
http://diariodozezu.blogspot.com.br/
http://www.escritorjchesse.blogspot.com.br/

Um grande abraço e boa sorte.
J.C.Hesse

Fiquei ali parado tentando entender a mensagem. Se me tratava por colega, será que me conhecia? Mas não havia ninguém ali comigo. Puxei o bloco onde antes anotara a palavra metempsicose e anotei a mensagem temendo vê-la desaparecer da mesma forma que surgira. Restava-me decifrá-la já que desconhecia o que era blog ou os caracteres estranhos que vinham após os dois pontos. Mas tentei memorizar bem o nome: J. C. Hesse. 
Um som estranho se fez ouvir  e as letras foram se desmanchando, a tinta escorrendo para um único ponto central. Depois, para meu espanto, o ponto se desprendeu da parede na forma de um beija flor negro que ficou esvoaçando pela sala como um louco. 

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