segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

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AULA DE VÔO
... não importa qual seja o poder de Deus, o primeiro aspecto de
 Deus jamais é o do Senhor absoluto, do Todo-Poderoso. É o do 
Deus que se coloca no nosso nível humano e se limita. 

- Jacques Ellul, Anarchy and Christianity

- Bem, Mackenzie, não fique aí parado de boca aberta - disse a negra enorme enquanto se virava e seguia pela varanda, falando o tempo todo. - Venha conversar comigo enquanto preparo a janta. Ou, se não quiser, faça o que desejar. Atrás do chalé, perto do abrigo de barcos, você vai encontrar uma vara de pesca que pode usar para pegar umas trutas. 
Ela parou junto à porta para dar um beijo em Jesus.
- Lembre apenas - e virou-se para olhar Mark - que você tem de limpar o que pegar. - Depois, com um sorriso rápido, desapareceu no chalé, carregando o casado de inverno de Mack e segurando a arma pelos dois dedos, com o braço estendido.
Mack ficou parado, de boca aberta e com uma expressão de perplexidade grudada no rosto. Mal notou quando Jesus passou o braço por seu ombro. Sarayu parecia ter simplesmente evaporado.
- Ela não é fantástica? - exclamou Jesus, rindo para Mack.
Mack o encarou, balançando a cabeça.
- Estou ficando maluco? Devo acreditar que Deus é uma negra gorda com um senso de humor questionável?
Jesus riu. 

Estava imaginando porque Deus escolheria a figura de uma mulher gorda para aparecer naquele livro se podia ser uma Angelina Jolie e meus olhos foram atraídos por uma agitação incomum do pequeno Jesse. Ele já se tornara um companheiro inquieto porém sempre presente. Achava mesmo o leve zunido de suas asas algo reconfortante. Minha preocupação inicial com a possibilidade dele vir a morrer sem alimento foi esmorecendo com o passar dos dias. Ele apenas circulava pelo amplo salão, por vezes desaparecendo de meu ponto de vista e outras vindo até mim como se estivesse carente de companhia. Existia algo que ele sempre respeitava, porém. Bastava que eu me alojasse na poltrona com um livro em mãos para que se retirasse para algum canto perdido do salão quase infinito, sumindo por entre as prateleiras. Parecia ser um acordo mudo. Por isso o fato dele estar se agitando ao meu redor enquanto tinha o livro A Cabana em mãos era algo inusitado. Bastou seguir sua trajetória com os olhos para entender o que o inquietava. Novamente pela janela redonda que ficava no alto da parede um líquido negro escorria. Esta visão acelerou um pouco meu coração causando certa ansiedade mas já não foi suficiente para me provocar o impacto da primeira mensagem. Como da outra vez o líquido foi escorrendo lentamente pela parede e tornou a formar, como que guiado por pincel invisível, a seguinte mensagem:

Gostei muito do blog! Continue divulgando porque ele ainda vai crescer muito!!!

http://imaginemia.blogspot.com.br/

Recolhi apressadamente meu bloco e como da outra vez, anotei cuidosamente a mensagem antes que a tinta, como que sugada por um imã invisível, fossem atraídas para o centro da parede formando um ponto negro e denso que logo se desprendeu da parede na forma de um outro beija-flor. Tinha agora dois companheiros alados. Este segundo um pouco menor que o primeiro. Procurei o que tinha anotado durante o surgimento de Jesse. Aquela palavra "blog" também estava ali. Ao que parece, alguém ou alguma coisa gostava e seguia o meu... blog. Diacho, o que seria aquilo? Mesmo tendo vasculhado em algumas prateleiras não havia encontrado alusões àquela palavra. Lógico, pela quantidade de prateleiras que se assomavam ali, eu bem podia passar o resto da eternidade procurando. Respirei fundo. O pequeno beija flor negro voou diante de meus olhos e ficou ali parado no ar como se esperasse algo de minha parte. Olhei para o papel onde tinha anotado a mensagem e pensei que "imaginemia" era um nome muito grande. 
- Que tal Immia? - Perguntei como se entendesse o motivo da espera. 
A pequena ave pareceu aceitar a nomeação pois voou como um raio para o lado de seu companheiro e logo os dois partiram para explorar o novo território. 

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